A fala do “Ministro” da Saúde representa aquilo que há anos fazem os governos. Culpam os profissionais da saúde pelo caos nos hospitais, pronto-atendimentos, UPAS.

“Fingimos” que trabalhamos quando falta material e medicamentos padronizados e fazemos “vaquinha” para comprá-los, por que simplesmente os pacientes precisam deles. Fingimos que trabalhamos quando levamos de nossas clínicas privadas “luvas” porque no hospital público está em falta.

Fingimos mais ainda quando somos informados através da mídia que há luvas sim, acima do tamanho que necessitamos como se usar o tamanho inadequado não comprometesse o resultado final – isso porque fingimos.

Fingimos que trabalhamos quando o governo não cumpre suas próprias leis e aceitamos trabalhar em UTI-Neo e UTI-Ped sem escala de especialidade, quando deveríamos exigir a aplicação da legislação para o adequado funcionamento dessas unidades.

Fingimos que trabalhamos quando a própria gestão burla essa legislação e sugere uma escala com cobertura parcial de doze/horas diurnas, para “esticar “a escala. Afinal, a maior demanda ocorre no período diurno esquecendo que as poucas que ocorrem à noite são emergências que matam. Qual problema se há mais um óbito por baro-trauma na madrugada… Afinal fingimos.

Fingimos que trabalhamos quando estressados discutimos com o colega sobre problemas que são da alçada da administração.

Fingimos que trabalhamos quando um funcionário acomoda um paciente no banco por falta de maca, e é punido; não falamos de leitos e tampouco das enfermarias corredor, estamos fingindo.

Fingimos que trabalhamos quando quase somos agredidos nas portas de centro-cirúrgico e salas de emergência, quando informamos aos familiares que não há vaga de UTI e o paciente precisa de uma.

Fingimos que trabalhamos quando promovemos mutirões anuais para tentar reduzir as filas de cirurgias eletivas e amenizar a angustia de pais e crianças, por anos de espera. Isso porque fingimos que trabalhamos e não por incapacidade da gestão de contratar mais profissionais.

Fingimos que estudar faz parte do nosso trabalho, porque congressos, jornadas, cursos de atualização para mantermos atualizados não reverterá em benefícios aos pacientes. Sim senhor Ministro há casos que nos fazem virar mágicos para tentar resolvê-los e por aí continuamos a fingir.

Fingimos que trabalhamos como mesmo sem ambulatório oficial para os egressos damos um “jeitinho” de atender aquele paciente de fimose que é rapidinho, mas, não temos coragem de deixar de atender a bexiga neurogênica, o cardiopata com atresia de esôfago, anomalia anorretal e rim único que leva quase uma hora para colher história, examinar, acalmar paciente e mãe e mais um tempinho extra para orientações dos cuidados em casa. Afinal lá no postinho de saúde de sua cidade nem médico tem.

Isso senhor Ministro porque a OMS ignora o que não é atenção básica e o senhor também ignora. Ignora também os que fingem que trabalham, só lembrando que são poucos que tem apadrinhamento politico e esquemas antigos que prejudicam a imensa maioria daqueles que “TRABALHAM SEM FINGIR”.

 

 

Lucia Caetano 

Médica Cirurgiã pediátrica

Conselheira do CRM-TO

 

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